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Conceito de Social Design mais próxima dos dias de hoje

Atualizado: 25 de fev. de 2019

Ao longo das décadas que se seguiram, e durante a segunda metade do séc. XX, seriam quatro os autores que, fruto das mais reconhecidas investigações incidentes na área do Design, iriam conseguir resultados concretos e consequentemente fortes contribuições para uma derradeira definição do termo Design Social, e respetiva aproximação àquilo que é hoje.


O primeiro, ou, pelo menos, o mais antigo destes autores é o designer e teórico argentino Tomás Maldonado (1922-2018). Defensor de um Design Industrial objetivo e atento a nível social, promotor de temáticas como a ecologia, a natureza ou o ambiente, na sua direta relação com a sociedade em que se encontram. Este teórico considera relevante que os designers tenham noção do impacto que os produtos têm assim que estes são lançados para o mercado.


Tomás Maldonado

Na sua opinião, é da máxima importância analisar "...a incidência real dos novos produtos sobre o ambiente, sobre a nossa vida quotidiana, sobre as nossas relações de comunicação interpessoal, sobre a nossa perceção da realidade exterior." (62 MALDONADO, Tomás - Design Industrial. Lisboa : Edições 70, 2006.

No entanto, é o designer austríaco - Victor Papanek (1927 - 1999), quem vem dar um impulsionador contributo teórico quanto às ponderações do Design em torno do ambiente, da sustentabilidade, da ecologia ou da ética, entre outros temas que foram sendo cada vez mais debatidos e abordados na sua época.

Victor Papanek


Papanek veio alertar a comunidade de designers seus contemporâneos para as suas emergentes responsabilidades enquanto profissionais, numa abordagem que se verificaria atual ao ponto de desafiar, ainda hoje, os atuais designers a manter os mesmos valores na sua abordagem ao produto.


Papanek revelou-se um seguidor e consequentemente um forte aliado das ideologias propostas por Buckminster Fuller, trabalhando inclusive em conjunto com o designer americano numa das suas obras escritas mais provocativas da época - Design for the Real World: Human Ecology and Social Change.













Esta foi uma obra que se revelou bastante mediática, e fortemente criticada por muitos designers seus contemporâneos, uma vez que lançava questões polémicas acerca da ecologia e da sociedade, que naquela altura eram temas que começavam já a trazer problemas à sociedade mundial. Contudo, esta vir-se-ia a revelar uma obra de tremendo sucesso, surgindo enquanto um derradeiro apelo a toda a comunidade global de designers.


Papanek mostrava então defender que os valores e ética que transmitia nas suas obras deveriam ser inatos num designer e que o Design em si não deveria construir áreas específicas onde se pudesse atuar de modo mais responsável, mas sim que se agisse sempre responsavelmente fosse qual fosse a vertente em prática.











"Talvez não devesse existir a categoria especial chamada design sustentável. Talvez fosse mais simples presumir que os designers tentassem reformular os seus valores e o seu trabalho, de modo a que todo o design se baseasse na humildade, combinasse os aspetos objetivos do clima e o uso ecológico dos materiais com processo intuitivos subjetivos, e assentasse em fatores culturais e bio regionais." PAPANEK, Victor - Arquitetura e Design. Ecologia e Ética. 1ª ed. Lisboa : Edições 70, 1995.

Duas décadas mais tarde, surge uma nova obra de Papanek, e novamente de relevo para as ponderações em torno do Social Design. O volume Arquitetura e Design. Ecologia e Ética de 1995, mostra-se com um intuito bem mais atual do teórico austríaco de abordar os valores do Design e do que deveria ser esta área, bem como as obrigações de um designer e os efeitos que o mundo reflete com as suas ações. Embora surja mais de duas décadas depois de Design for the Real World, esta mostra ser uma obra que se foca de novo em torno das questões que definem e problematizam o conceito de Social Design.


Este revela ser um volume ainda tremendamente atual, em que Victor Papanek surge, em plena década de 90, remetendo para uma prática social do Design, questões que ainda hoje são tidas em consideração pelos atuais teóricos, e mostrando-se assim, como uma referência já muito contemporânea em relação à definição e mostra desta vertente.


Victor Papanek ficou conhecido por problematizar de um modo algo irreverente as questões incidentes sobre as responsabilidades sociais e ecológicas do Design, revelando-se um teórico com um importante contributo para a definição da temática do Design Social.


"(...) deveremos ser extremamente cuidadosos com aquilo que criamos e porquê. As mudanças ambientais no nosso frágil planeta são uma consequência daquilo que fazemos e dos instrumentos que utilizamos. Agora que as mudanças que provocamos são tão grandes e tão ameaçadoras, é imperativo que os designers e arquitetos deem o seu contributo para ajudarem a encontrar soluções [...] profissionais e utilizadores de serviços - reconheçamos as nossas responsabilidades ecológicas." PAPANEK, Victor - Arquitetura e Design. Ecologia e Ética. 1ª ed. Lisboa : Edições 70, 1995.

Sete anos mais novo que Papanek, surge-nos então o designer alemão Gui Bonsiepe (1934-), cuja carreira se centrou essencialmente no ensino e na escrita. Bonsiepe dedicou-se fortemente a expor e a definir a importância do Design Industrial na sociedade e respetivo impacto inerente às suas ações, logrando até mesmo questionar se os esforços por parte dos designers, apesar das inerentes boas intenções, não acabariam por piorar os efeitos em torno do ambiente ao redor do utilizador:

Gui Bonsiepe

"A este respeito é óbvia a necessidade de examinar profundamente até que ponto os esforços positivos do designer podem ser considerados como tal ou se, contra aquilo que se sustenta oficialmente, a prática projetual não seja, por sua vez, cúmplice do estrago e da falência ambiental, ou seja, a liquidação total da natureza." BONSIEPE, Gui - Teoria e prática do design industrial. Lisboa : Centro Português de Design, 1992. p. 75)

É revelado, na sua obra Teoria e Prática do Design Industrial de 1975, um cenário da época que se assemelha em muito ao atual - embora a sociedade e os designers da época não tivessem ainda práticas regulares de prevenção, quer para com danos ambientais, quer para com danos sociais. No entanto, Gui Bonsiepe mostra deter já uma forte noção de que seria necessário o Design agir contra os efeitos secundários que afetavam negativamente a sociedade a nível mundial.


Bonsiepe demonstra conhecer e promover algumas alternativas e possíveis soluções concretas, a fim de se mostrarem passíveis de ser implementadas na sociedade, para melhorar uma situação de constante preocupação e problematização incidente nas alterações ambientais e sociais.



Por último, surge no âmbito da definição e respetiva evolução do conceito de Design Social, um atual teórico americano, que se revela, inclusivamente para o novo milénio, como um dos primeiros teóricos a utilizar enquanto temática o próprio termo de Social Design.


Victor Margolin

É de um modo direto e tremendamente contemporâneo que nos surge, desta feita, Victor Margolin (1941-). Victor Margolin mostra-se como o teórico responsável por uma vasta gama de monografias e iniciativas no âmbito da definição e respetiva difusão do Social Design, focando os seus esforços em quem mais necessita.

Procurando compreender desde muito cedo as potencialidades desta área na sua aplicação à sociedade, Victor Margolin defende que o Social Design não se dedica apenas a tratar de casos de Terceiro Mundo, mostrando-se de certo modo claro para o autor, que tal vertente poderia e deveria beneficiar qualquer pessoa.


Victor Margolin, foi um dos primeiros teóricos a abordar o conceito de Social Design enquanto disciplina independente, um atento seguidor da obra de Victor Papanek , defende que o Design deve providenciar bem-estar aos demais utilizadores, apelando à sustentabilidade enquanto um modo de vida.










Foi graças ao contributo de teóricos e designers práticos que aqui foram apresentados que o Social Design tornou-se numa área própria, percorrendo todo o caminho desde apenas um vago conceito de ética, moral, ambiente e sociedade, até almejar tornar-se numa vertente inerente ao Design.


Os nomes que até aqui surgem, refletem aqueles que de maior importância, mediatismo e até credibilidade auferiram junto dos demais designers das suas respetivas épocas, e junto da própria sociedade.

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