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Recensões Críticas

Eloísa Cartonera 

Através dos textos que nos foram facultados pelos professores no âmbito do Projeto: Lugar Lugares, conheci o projeto Eloísa Cartonera, pelo qual fiquei fascinada e o qual escolhi para fazer a minha recensão crítica, também proposta pelos professores.

 

Num período conturbado, em Buenos Aires em plena crise de 2001, a sociedade Argentina que até então coabitava espantosamente bem com as dificuldades das classes mais baixas, este panorama vê-se mudado de um dia para o outro.

Metade da população caiu abaixo da linha de pobreza e, para sobreviver milhares de pessoas foram obrigadas a percorrer as ruas e recolher cartão e papel dos contentores do lixo, dando assim origem e uma nova classe de pobreza urbana – os cartoneros.  

 

É nesta altura tão inquieta que surge a Eloísa Cartonera – uma editora de livros que tem como matéria prima o desperdício urbano. As capas dos livros são feitas de cartão recolhido dos contentores de lixo e pintados à mão. Cada livro é uma peça única, pois não há nenhuma capa igual à outra - uma característica marcante e diferenciadora que os torna únicos no mundo. Deliberadamente pobres no que toca ao valor estético, estas capas refletem perfeitamente o cenário onde nasceram, tornando-as desta forma, extremamente genuínas.

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Atualmente presente em 13 países, o conceito do projeto Eloísa Cartonera é um caso de sucesso que oferece novos valores, modos alternativos de funcionamento, sonhos futuros e esperança. É impressionante como com escassos recursos de produção este projeto conseguiu acrescentar alto valor social e cultural, oferecendo qualidade literária de valor elevado, com baixo custo. É um ponto de encontro entre expressões artísticas, sistemas sociais e a vida em geral.

 

Por um lado, este projeto conseguiu assegurar com que muitas famílias não caíssem completamente abaixo do limiar de pobreza, por outro lado deu nova vida aos materiais desperdiçados. Desta forma, podemos afirmar que Eloísa Cartonera é um exemplo não deliberado de Social Design, que conseguiu juntar a comunidade para estar, aprender, ganhar a vida e servir a sociedade.

 

Existe uma forte metáfora associada a este projeto que merece ser ponderada. Eloísa Cartonera é uma declaração poderosa acerca da forma como escolhemos, desperdiçamos ou reintroduzimos, tanto os nossos excedentes materiais, como humanos.

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Arquitetura e Design. Ecologia e Ética de Victor Papanek

O Problema dos Plásticos 

No âmbito do Projeto: Lugar Lugares, onde tivemos que desenvolver uma pesquisa sobre Social Design, tive a oportunidade de conhecer o livro Arquitetura e Design. Ecologia e Ética de Victor Papanek. A minha recensão vai centrar-se no capítulo: O Problema dos Plásticos.

 

O autor começa por explicar o porquê de o plástico ser um problema para o planeta. Para além de o seu fabrico contribuir para o efeito estufa, tendo este como base os combustíveis fósseis, utiliza recursos insubstituíveis.

 

No entanto, reconhece que existe ainda uma necessidade para o uso do plástico, pois este é o melhor material para os dispositivos médicos, pelo menos era até então. 

 

De seguida, identifica os Estados Unidos como um exemplo problemático, que para além de aproximadamente 25% de todo o seu lixo consistir em plástico; em vez de o reciclar, envia-o para os países asiáticos, onde estes usam processos prejudiciais ambientalmente.   

 

Dá o exemplo de alguns estados, como Califórnia, Minnesota e Wisconsin que estão a pensar proibir o plástico, substituindo-o pelas embalagens de papel. Papanek reconhece o esforço, mas afirma que esta não é uma boa solução, pois iria criar um novo problema – área necessária para a produção do papel que seria uma área do tamanho do Reino Unido.

 

Por fim, o autor mostra que tem noção que já existem estratégias para o uso mais ecológico do plástico e que acredita que estas irão aumentar significativamente ao longo dos anos. No entanto, afirma que é necessário que os designers apresentem alternativas ao plástico e que escolham com extremo cuidado os materiais com que vão trabalhar.

 

O livro Arquitetura e Design. Ecologia e Ética foi escrito por Victor Papanek, em 1995. Já nesta altura Papanek mostrava preocupação em relação ao uso excessivo do plástico, apelando ao uso de materiais alternativos. Ora, infelizmente, apesar dos esforços para conseguir chamar a atenção a este problema já nessa altura, apenas atualmente, quase 20 anos depois, é que vimos realmente um esforço para criar soluções nesse sentido, tanto por parte dos designers, como por parte do governo. Cada vez mais surgem novas propostas, novas empresas com materiais alternativos ao plástico, coisa que Victor Papanek já previa acontecer.

 

No entanto, é importante questionar, essas soluções não poderiam ter surgido muito mais cedo? Tendo em conta que já havia pessoas preocupadas com estes assuntos, como o caso de Victor Papanek, se este avisos tivessem sido tidos em consideração, acredito que sim, estas soluções poderiam ter chegado a nós muito mais cedo. 

 

O facto de Victor Papanek conseguir prever o problema que o plástico ia criar, bem como outras problemáticas, descritas no seu livro, só mostra, que este era um homem que estava muito à frente do seu tempo.

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QDrum

Ao fazer a minha pesquisa sobre Social Design, conheci o QDrum, um projeto desenvolvido pelo arquiteto sul-africano Hans Hendrikse e pelo seu irmão, engenheiro civil, Piet.

 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, apenas 47% da população rural africana tem acesso a água canalizada e limpa, e apenas 43% têm saneamento, deixando-as vulneráveis a doenças transmitidas pela água como é o caso da cólera e disenteria.

 

Hans e o seu irmão conheciam muito bem esta realidade e testemunhavam de perto o esforço que transportar água significava para as populações das comunidades mais pobres e isoladas, principalmente para as mulheres e crianças, que acarretavam baldes de água , tendo de percorrer quilómetros para aceder à fonte mais próxima.

 

O QDrum, surgiu para resolver esta problemática. Trata-se de um simples contentor cilíndrico, que tem uma abertura central por onde se passa uma corda, que o utilizador puxa para que o contentor vá rolando ao longo do percurso, facilitando e tornando mais rápido todo o processo de transporte de água em locais onde esta escasseia e se encontra a grandes distâncias do local de habitação. Por fim, num dos topos, tem uma tampa plástica em rosca por onde se enche o QDrum. Uma vez cheio, depois será puxado por um adulto ou por duas crianças sem grandes esforços. É de salientar que não se trata de quantidades modestas de água, mas sim de cinquenta litros, ou, no caso da versão em tamanho maior do QDrum, de setenta e cinco litros,  que será transportado ao longo de, pelo menos, um quilómetro. Com tais quantidades de água, e com um depósito convencional,  esta não seria de todo uma solução minimamente viável. Para além da sua funcionalidade, o QDrum é muito resistente quanto às quedas e desgaste, foi submetido a testes de uso durante vinte meses em uso extremo e apresentou apenas meio milímetro de desgaste, sendo que a sua estimativa de vida útil é de cerca de dez anos.

 

Com todas as suas potencialidades, o QDrum é um forte contributo para o Social Design que foi aceite e está a ser utilizado em cerca de uma dúzia de países africanos, contribuindo assim para um efetivo melhoramento da qualidade de vida das famílias nas respetivas comunidades.

 

Hans e Piet Hendrikse conseguiram um projeto simples e eficiente, resolvendo uma questão vital para a vivência destas comunidades, que se viam ameaçadas não só em termos de saúde, mas também no que toca à sua segurança.

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